A conclusão
consta de um estudo divulgado hoje, coordenado pelo projeto europeu "EU Kids
Online", que congrega as respostas de quase dez mil jovens europeus, para aferir
o que incomoda as crianças e jovens dessa idade ao usarem a rede. Conduzido em
25 países europeus, incluindo Portugal, e divulgado na data em que se assinala o
Dia Europeu da Internet Mais Segura, este estudo aponta os portais de partilha e
alojamento de vídeos, as páginas na Internet na sua generalidade, as redes
sociais e os jogos como as principais font_tages de incómodos e riscos para os
mais novos.
Das 9904 respostas analisadas, 32% dos rapazes e raparigas
inquiridos consideram os portais de partilha de vídeos como as plataformas de
maior risco para encontrar online imagens violentas ou pornográficas, com muitos
deles, alguns apenas com 9 anos, a descreverem cenas de sexo explícito, de
violência ou de crueldade animal, como exemplos daquilo com que já se depararam
online, inadvertidamente.
Nas respostas, os jovens europeus exprimiram
também as suas emoções perante aquilo com que foram confrontados, sendo que o
medo representa 54% das reações perante a violência, e a repulsa 59% das reações
perante a pornografia.
"Uma das conclusões que esta análise evidenciou é
que as crianças estão muito incomodadas com conteúdos violentos e pornográficos,
que aparecem até associados a um tom humorístico, mas que elas próprias dizem
que não acham graça nenhuma", disse à Lusa Cristina Ponte, coordenadora do "EU
Kids Online" em Portugal.
Quanto às redes sociais, como o Facebook, 48%
dos jovens associam-lhes riscos relacionados com questões de conduta e 30%, com
o estabelecimento de contactos.
O estudo revela ainda que, em relação às
preocupações com a utilização de redes sociais, são sobretudo as raparigas que
percecionam os riscos, e são também elas que valorizam as questões de conduta e
de contactos através da rede. Já os rapazes estão mais atentos à violência e
pornografia.
De acordo com o relatório do estudo, as diferentes perceções
consoante o género explicam-se pelo facto de os rapazes serem os que mais usam
plataformas online de partilha de vídeos e os que mais recorrem aos jogos,
estando por isso mais vulneráveis a imagens de violência e
pornografia.
Já as raparigas, mais ativas nas redes sociais, estão mais
preocupadas com questões de comportamentos, de devassa da vida privada e de
reputação entre pares.
"Este tipo de riscos, que nós ligamos mais a
condutas, aparece mais do que o aborrecimento que causa, por exemplo, ser
contactado por um estranho, que é até uma preocupação muito mais presente na
agenda pública", destacou Cristina Ponte.
"Uma das conclusões a que se
chegou é que são aqueles que já foram magoados que a seguir vão magoar. Temos de
contrariar esta tendência de condutas que respeitam pouco os outros",
acrescentou.
A análise ao inquérito demonstrou também que a perceção dos
riscos na rede muda à medida que as crianças vão crescendo, evoluindo de uma
preocupação mais vincada com os conteúdos disponíveis para uma maior preocupação
com condutas.
Dos exemplos dados pelo estudo, destacam-se as preocupações
com o bullying, que vão aumentando até atingirem um "pico" por volta dos 13-14
anos, ou as preocupações com a partilha indesejada de informações privadas, como
fotografias, que são mais comuns entre os mais velhos.
Menos mencionadas,
mas também presentes, e em crescendo à medida que as crianças crescem, estão
preocupações com conteúdos relativos a automutilação e suicídio, distúrbios
alimentares, drogas, racismo e publicidade.
Realidade
portuguesa
Os jovens portugueses entre os 9 e os 16 anos têm uma
perceção maior do que os seus pares europeus quanto aos riscos associados a
conteúdos violentos e pornográficos na Internet, revela o estudo "EU Kids
Online".
"Quando analisámos as respostas das crianças portuguesas o que
notámos foi que Portugal apresentava valores acima da média europeia no que se
refere aos conteúdos pornográficos e aos conteúdos violentos", disse à Lusa
Cristina Ponte.
De acordo com a coordenadora portuguesa, os jovens
portugueses mostram preocupações com os riscos associados a conteúdos violentos
e pornográficos numa percentagem de 27%, contra um valor médio europeu
ligeiramente acima dos 20%. A conclusão consta do estudo divulgado
hoje.
"A preocupação com os conteúdos pornográficos e violentos aparece
mais nos países do Sul da Europa, com uma certa cultura católica e em que o uso
da Internet não é tão intenso, como no Norte da Europa", explicou.
A
coordenadora adiantou também que cerca de um terço das respostas portuguesas se
assemelhavam mais a "uma recomendação do que realmente àquilo que as crianças
acham que pode incomodar uma criança da idade delas".
"A resposta ao
questionário parecia reproduzir uma frase que eles ouvem muito: 'Não falar com
estranhos'", precisou.
Cristina Ponte destacou a diversidade das
respostas a este inquérito, que levou crianças a manifestarem preocupações
aparentemente tão elementares como entrar na conta da rede social Facebook e
perceber que se tem um amigo a menos, a aspetos mais vastos e elaborados como a
perceção de uma quase total ausência de privacidade pelo uso da
rede.
"São problemas que mostram que as crianças e os jovens estão a
viver uma experiência que os seus pais não viveram e que é uma experiência nova
em termos de relações sociais", sublinhou a coordenadora portuguesa.
Para
Cristina Ponte, os resultados indicam uma necessidade de envolver pais,
professores, governos e entidades com poderes regulatórios num processo que
previna o acesso a imagens violentas.
"Ressalta também a necessidade de
uma educação para os direitos das crianças no digital, o direito à sua boa
imagem, o não ser maltratado pelos colegas. Esta é uma questão de educação e
respeito que o Dia Europeu da Internet Mais Segura deste ano coloca com muita
tónica", afirmou.
Quanto ao envolvimento dos pais, Cristina Ponte pede
uma atenção permanente aos sinais dados pelos filhos, um diálogo constante e uma
mudança de atitude, já que entre os pais portugueses se denota uma tendência
para negar comportamentos reconhecidos até pelas próprias crianças, como o envio
ou a receção de imagens sexuais.
Iniciativas de alerta para os
riscos da Internet assinalam Dia Europeu da Internet Mais
Segura
Centenas de iniciativas no âmbito do Dia Europeu da Internet
Mais Segura, que hoje se assinala, vão alertar os portugueses, sobretudo os mais
jovens, para os riscos associados ao uso da rede.
As cerca de 500
iniciativas são promovidas pelo Centro Internet Segura (CIS), coordenado pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), decorrem até dia 16, sob o lema
"Direitos e deveres online: Liga-te, mas com respeito", com o objetivo de
"sensibilizar a população, em especial jovens e crianças, sobre como beneficiar
em segurança das grandes oportunidades oferecidas pela Internet".
Entre 4
e 8 de fevereiro, mais de 250 escolas e agrupamentos do ensino básico e
secundário vão desenvolver iniciativas, envolvendo alunos e encarregados de
educação, que "contribuam para a utilização crítica, consciente e segura da
Internet".
Parceira do CIS, a Microsoft associa-se à iniciativa
promovendo, à semelhança do que já aconteceu em 2012, ações de sensibilização e
formação sobre segurança online nas escolas, contando com 148 voluntários para o
efeito.
O CIS vai ainda estar presente em lugares públicos com acesso à
Internet, como bibliotecas, instituições de solidariedade social, centros de
emprego, entre outros, também com o objetivo de alertar para os perigos da
utilização da rede.
Ainda no âmbito deste dia europeu, o Instituto
Português do Desporto e da Juventude vai promover um passatempo nacional sobre
comportamentos seguros online, com início hoje e a duração de quatro dias,
destinando-se a crianças e jovens entre os 5 e os 30 anos, que têm a
possibilidade de ganhar cinco kits de prémios diários.
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