A Amizade
Estava muito bem na cama quando o despertador decidiu “chamar-me”. Sentia-me cansada e não me apetecia levantar. Abri os olhos e olhei para o meu pai que já estava diante de mim para me acordar e pedi-lhe que me deixasse dormir por mais alguns minutos. Dito e feito… mas pouco adiantou, porque passados, nem 5 minutos, já estava novamente no meu quarto para me acordar.
Não tive outro remédio senão levantar-me e fazer aquilo que faço todas as manhãs. Ao sair de casa peguei na minha mochila e no meu pão e entrei para o carro entretida a comer. Despedi-me do meu querido pai, fui para as aulas e pensei: “só de pensar que se fossem férias poderia estar a dormir!!!”
Quase “cem anos depois” a escola resolveu acabar. Ao toque da campainha fui almoçar com a minha melhor amiga, a Filipa. Ao almoço comentámos o “desastre” que tinha sido o teste de matemática. Um Satisfaz Bastante, para mim, já não era nada mau. A nossa conversa estava a ser muito bem sucedida até que um grupinho de miúdas “mesquinhas e parvinhas”, que às vezes nem me lembro que são da nossa turma, decidiram aparecer e meter o bedelho onde não eram chamadas.
Passei o resto do intervalo com a minha amiga, mas reparei que ela estava intimidada com alguma coisa. Estava diferente. Percorríamos a escola silenciosamente. Não era a Filipa que eu conhecera durante 11 anos. Estava triste, cabisbaixa. Um ar pensativo e triste apoderou-se do rosto onde geralmente sobressaía uma expressão enérgica e confiante.
Como ela, também eu fiquei triste.
Ao voltar a casa contei à minha mãe o que tinha sucedido na escola. Como sempre, a minha mãe deu-me um concelho muito simples, como todos os seus conselhos. Tão simples mas tão eficazes que, às vezes, até fico surpreendida. Desta vez apenas me disse para esperar e ver o que mais acontecia.
Depois de jantar fiz a minha mochila, a minha higiene pessoal e fui para a cama.
Estava tão preocupada com a Filipa que nem sequer adormeci.
Até o meu pai ficou surpreendido e preocupado ao ver que eu já estava desperta, quando me veio “acordar” de manhã.
Repeti o “ritual” de todas as manhãs e fui para as aulas.
Desta vez a Filipa estava completamente diferente do dia anterior. Mostrava-se agressiva comigo e com o resto da nossa turma. Para meu espanto, ela estava apenas a cumprir ordens das “rainhas do nada” (aquelas tais raparigas mesquinhas e parvinhas), só que eu não sabia.
Não queria acreditar no que os meus olhos viam.
Fitei-a com um olhar que a deixou atrapalhada.
Decidi então nunca mais falar ou ser amiga dela, embora soubesse que esta não era a melhor solução.
Acabou por ser a minha mãe a chamar-me à atenção para este assunto, porque me perguntou o que se passava e eu tive de responder. Até a minha mãe ficou muito admirada por aquilo que se tinha passado lá na escola e principalmente na cabeça da Filipa.
Finalmente é fim-de-semana! Por azar, tive de ir às compras, aos saldos com a minha mãe. Sortudo do meu pai que ficou a tirar ervas daninhas do jardim!
Quando vínhamos embora, passamos pela casa da “traidora” que julgava ser minha amiga. Como pode ter sido capaz de ter feito uma coisa daquelas?! Inacreditável!!!
A minha mãe apercebeu-se da minha cara de zangada, daquelas caras que só eu posso fazer. Então pegou na minha mão e levou-me até à entrada do apartamento onde ela vivia.
Afinal a minha mãe também era uma traidora?!
Não, apenas me queria ajudar.
Depois da avó da Filipa nos ter deixado entrar no prédio, a minha mãe disse-me:
- Enquanto tu vais tentar esclarecer tudo com a Filipa eu vou falar com a avó dela!
- E se eu não conseguir esclarecer tudo com a Filipa?
- Então vens falar comigo e logo trataremos disso! - Disse a minha mãe, com uma voz muito doce mas ao mesmo tempo distante, como se estivesse a pensar noutra coisa.
As escadas pareciam imensas, mas por fim chegámos.
Dirigi-me ao quarto dela e quando a vi pensei: com certeza que está maluquinha!!! Não é que apareceu com umas cuecas na cabeça e com uma capa de super-homem?! Mas, logo percebi o que se passava. Estava apenas a entreter o irmão mais pequeno com que tinha sido presenteada. Que sorte!
Ela recompôs-se e foi como se tivesse percebido o que eu queria falar com ela.
Entreteve o irmão e a conversa foi a seguinte:
- Sei que estás desiludida comigo e tens razões para isso! – A Filipa ao pronunciar estas palavras ficou corada.
- Se sabes desde o inicio que estavas errada ao fazer o que fizeste, porque insististe em faze-lo? Sabes que com as tuas acções deixaste muita gente triste?
- Sei, mas…
- Não achas que, ao menos, deves pedir desculpa?
- Sim, mas deixa-me explicar. Aquele grupo de raparigas disse que para eu entrar no grupo delas, não podia falar com o resto da turma! Peço-te desculpa, não sei o que é que me passou pela cabeça. Amigas?
- Agora e sempre!!! – Respondi eu com um grande sorriso.
Tudo voltou ao normal. Voltámos a ser amigas e comprometemo-nos a contar os piores segredos, uma à outra. E tudo graças à minha mãe, que me obrigou a enfrentar o problema e não deixar que uma coisa qualquer estragasse e acabasse com tudo o que tinha partilhado com a minha amiga.
As divergências podem existir, por vezes até podemos magoar mas, com calma e com diálogo, tudo se resolve.
Melhores amigas para sempre!!!
Parabéns Ana Alves são os votos do teu Director de Turma e Colegas de Turma!
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